29/09/2015

Inverso do Verso

Eu escrevo
E não para quê senão ser lida?
O porquê de tantas coisas ainda me é desconhecido
Eis um bom por que deu não sabê-los:
Eu não os busco  compreender, apenas vivencio-os.
Pouso meus dedos sob o teclado, caneta, lápis e papel e os deixo correrem soltos, ora fazendo baralhos no teclado, oras chiando a caneta.
Assim é a maioria de versos, e inversos de mim saídos,
São meros acasos de tudo que em mim vive, esconde, mora, sufoca, transborda ou  mata.
Assim a cada dia um novo morrer e renascer.
Não por amores românticos de humanos,
Não por dores mundanas e amenas,
Não por carências e sofrências,
Mas por sabe-se o quê, além disso, e ainda por tudo isso.
Oras bolas, que confuso os são, versos de menina vivendo déjà vu constantes.
Versos insanos?
Esperando sempre um retorno, um aceno, esteve o tempo todo na plataforma,
Tinha medo de embarcar naquele trem, mas ouviu-se repetidamente, não tenhas medo, não temas, não se deixe aprisionar pelo medo;
E então jogou-se de um susto num vagão qualquer e decidiu viajar nesse trem impetuoso, barulhento, desgovernado por vezes,
Mas nunca mais iria ficar parada na plataforma, vendo a mesma paisagem sempre cinza, suja e solitária.

By Lilyth Luthor


22/09/2015

September

E você culpa o trabalho, o estresse, a vida, as pessoas...
Eu culpo as decepções, as mentiras, a ingenuidade, a tpm...
Entre sorrisos e sussurros, vejo aquela indiferença, tão intima...
Sinto a solidão de sempre, rodeada de abraços vazios e presentes da hipocrisia.
E imaginamos tudo tão perfeito, num universo paralelo, sabemos o quanto foi real,
Fomos Olivia e Peter, amor e ódio de mãos dadas..
Ah, naquela correria, naqueles infartos diários, eu vivendo no limite, sabendo que perdia-o a cada dia, oras, o que poderia fazer?
E assim de um feito a bondade de September veio unir-nos em sua realidade.
Foram tempos maravilhosos e ainda não se sabe o porquê de hoje em dia ser assim..
Dizem-nos que foi um sonho, que impossível essa teoria...
Mas ainda vejo-o pelas ruas, o de sempre, sob seu chapéu aqueles mesmos olhos cinza.
Ainda hoje quase o alcancei, mas o que iria lhe dizer ou cobrar, ou pedir?
September seja sempre bom para mim, pois no fim das contas tu bem sabes o melhor para nós.

A prece diária de um despedaçado ser.

By Lilyth Luthor 


Voce


16/09/2015

Ruivo Anjo

Anjo ruivo ao sol,

Sorrindo distraída,

Segue sua rotina,

Nem nota, 

Se olhar disfarça,

Se ouvir ignora.

Lindo anjo, pele alva, rosto suave, corpo escultural, uma menina ainda.

Que encanto surreal,

Que poder sobrenatural,

Com um olhar determinado e o mais falante emudece ao seu lado.

Mas ninguém vê sua alma,

Ninguém além de mim,

Não mais ela deixa entrar.

Ali eu vejo toda a escuridão, toda dor, todo desespero desse anjo.

Ali eu sinto todo medo, indecisão, fúria, dessa menina.

Ali eu me fiz morada.

Ali ela me guarda.

Ali eu sou bem mais que mereço.

Ali nossos corações em descompasso se abraçam e nos acalenta.

Ali ainda que eu morra ela viverá assim... 

Distraída a sorrir por onde andar.

Pois ela nunca deixará que saibam que em sua alma habita um ser como eu.

Segue meu anjo..vá por onde fores..siga seu destino imposto... 

Pois eu bem sei que em bom lugar estou, protegido, escondido, aninhado em seu interior.


By Lilyth Luthor




08/09/2015

Carta a ti

Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2015.


Olá querido,
Hoje eu acordei sentindo novamente a dor de sempre, o corpo não respondia para levantar-me, foi preciso um esforço imenso para pôr-me de pé.
Caminhei vagarosamente para a cozinha, nunca foi tão difícil alcançá-la, preparei instintivamente seus ovos mexidos e seu achocolatado, pus a mesa, sentei-me a sua espera, até que Toddy subiu na cadeira e limpou o prato com o seu desejum, tentei brigar com ele, mas ao perceber minha loucura, sorri e lhe agradeci por me acordar.
Saímos para passear, fomos ao lago, Toddy não podia deixar de brincar com os patos, lembra disso?
Ele perseguido os pobres até no lago, eu ouço suas risadas marotas, vejo-te correndo atrás dele, como naquela bela manhã de domingo de outrora.
Ele veio até mim molhado, latindo e lambendo meu rosto, ansioso por atenção.
Ouvi ao longe uma buzina insistente, quem será que veio importunar-me nesse momento?
Voltei com Toddy para casa, e ao longe vi o carro de sua tia, sim, a tia bruxa, como a chamava.
Toddy sentou-se a meu lado e rosnou ao que parece nem ele a suporta.
-Bom dia querida. Que bela manhã para uma visita familiar.
-Bom dia, respondi secamente. O que lhe trás aqui?
-Oras amada, vim lhe ver, desde aquela tragédia que não nos vemos.
-Prefiro continuar assim, mas diga-me o real motivo de sua vinda.
-Nossa, ate parece me odiar. Não é só você que perdeu um filho não, eu perdi um sobrinho muito amado e todos sofremos com isso, pare de se vitimar, você não sofre mais que nenhum de nós.
-Cala a boca Jurema. Gritei ensandecida.
Vi-a estremecer com a minha reação, nunca na vida respondi aos mais velhos, sejam quem fosse, mas não darei o luxo de ser educada com quem menospreza minha dor.
Entramos finalmente, ofereci um café e após um longo silencio ela recomeçou.
-Desculpe-me a insensibilidade Katie, justamente sobre isso que vim conversar, já tem meses que você não sai desse sitio, não fala com ninguém, não vai às consultas com o psicólogo, não quer contato com o mundo. Isso precisa mudar urgentemente.
Sim querido ela me disse tudo isso, como se fosse algo que eu pudesse simplesmente desligar ou mudar.
Eu prometi falsamente manter mais contato com os parentes, esses mesmos que nunca me apoiaram quando seu pai se foi nos deixando por nossa sorte, os mesmos que naquele dia choraram de remorso, aqueles que hoje querem reparar a culpa.
Foi assim mais uma semana em minha vida.
Ah, sobre o feriado nacional, senti-me em Berlim, pois a “Presidenta” ergueu um muro entre ela e o povo para o desfile, pasme querido, não tem mais orgulho nacional em se desfilar na avenida como era antigamente todo sete de setembro.
Eu recordei nossas idas à cidade, você fantasiado de professor, representando a sua escola.
Bem querido, já é noite, tenho alguns remédios para tomar, logo adormeço, sinto ter que terminar por aqui meu relato.
Volto semana que vem.
Com muito amor, sua mamãe Katie.



By Lilyth Luthor






Fragmentos de uma renascida

......"-Que bom que veio.-Vim me despe...Antes de terminar Lilyth pôs a mão em seus lábios e recomendou:- Hoje não Hades, novamente não, nada de adeus, sei que nunca iremos nos deixar, então hoje, seja apenas um convidado de uma festa  e aproveite, ria, beba, fique o quanto desejar, na hora de partir, abrace-me e diga tchau, pois eu sei que antes mesmo que as violetas azuis morram, antes que aquela foto desbote e irei lhe ver.Hades sorriu, como se transformara aquela menina sem sal que via pelas ruas, como amadureceu, como o encantava e como isso o enlouquecia, pois queria a todo custo beijá-la, queria matá-la, roubá-la pra si e fugir, mesmo sabendo que a condenaria, mesmo sabendo que nunca seriam felizes, balançou a cabeça para ajeitar seus pensamentos e por fim falou:- Como desejar Lily. Tomou sua mão, beijou-a e tirou pra dançar.Rodopiaram pela sala sorrindo, estava em comunhão, um homem e uma mulher perdidamente apaixonados, visivelmente incompatíveis e um casal improvável, estavam fantasiando seus dias, noites e anos ate a morte certa.A música terminou e Lilyth foi pegar uma bebida, antes de voltar já sabia que ele não a esperaria, mas ela foi sorrindo, pois ele lhe fizera feliz por mais um dia...."


By Lilyth Luthor




04/09/2015

Morta





Carta a você

Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2015.



Por onde começar?
Como sempre irei lhe contar sobre os dias que vivencio aqui distante. O sol se faz presente todas às manhãs, mas é incapaz de me aquecer.
À tardinha chove, ora tranqüilo ora impetuoso, eu sempre me sento à janela para observar como as arvores se levam ao vento, como se inclinam por sobre suas raízes, firmes, fortes e bem enterradas ao chão. Às vezes as invejo.
Certa vez eu até caminhei por entre as flores úmidas ainda, foi revigorante e se me permite dizer lembrei-me da sua mania de caminhar na chuva, sorrindo pra mim na varanda.
Sabe aquele gatinho preto que vinha às vezes? Descobrimos que é fêmea e acabou de ter filhotes bem ali perto do celeiro antigo.
Espero que não se importe, mas eu vou ficar com um, quem sabe ele possa preencher este vazio que tenho no peito?
Talvez seja só efeito dos antidepressivos, mas eu ainda ouço sua voz naquele quarto do final do corredor.
 Teve uma noite que eu lhe ouvi conversando com alguém, corri apressada para lhe ver, quando cheguei peguei o Toddy sentado olhando para sua cama, quando ele me viu começou a latir como me dizendo que estava ali com você. Abracei seu travesseiro, sentindo seu perfume doce, Toddy subiu na cama, lambendo minhas lágrimas, e dormimos ali abraçados a tua lembrança.
Sei que ele sente sua falta como eu. Afinal tu eras mais amigo dele. Seu fiel pastor alemão. Aquele cisco de filhote que tu encontraste jogado a beira do rio numa caixa de sapato e chorando me implorou para ficarmos com ele.
Hoje somente ele me faz companhia, e como alivio momentâneo, essas cartas mal escritas mensais para uma caixa postal, na vã esperança que um dia leias.
A psicóloga diz que isso irá ajudar, que existem muitas mães vivendo o mesmo drama, a mesma dor,que precisam de apoio, queria me motivar a lançar uma tal de biografia, mas me recuso a contar nossa história de amor pra um desconhecido e vê-la virando modinha de meninas a suspirarem pelo meu anjo.
Prefiro que fique eternamente em paz nas lembranças de uma mãe que teve de si o tesouro roubado. Que fique em mim a doçura de teu olhar, a alegria da tua voz, o aperto de teus abraços e o sonho de um futuro encantado.
Quero guardaste aqui por entre as flores do nosso jardim, quando Toddy as deixa florir, afinal ele sempre quer sair correndo e pulando por ai, mas confesso que pouco tenho lhe dado essa diversão...
Ah  filho amado, tu foste tão cedo para longe do meu lado....
Prometo-te seguir como puder.
Com amor de sua mãe.


By Lilyth Luthor