Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2015.
Olá querido,
Hoje eu acordei sentindo novamente a dor de sempre,
o corpo não respondia para levantar-me, foi preciso um esforço imenso para
pôr-me de pé.
Caminhei vagarosamente para a cozinha, nunca foi tão
difícil alcançá-la, preparei instintivamente seus ovos mexidos e seu
achocolatado, pus a mesa, sentei-me a sua espera, até que Toddy subiu na
cadeira e limpou o prato com o seu desejum, tentei brigar com ele, mas ao
perceber minha loucura, sorri e lhe agradeci por me acordar.
Saímos para passear, fomos ao lago, Toddy não podia
deixar de brincar com os patos, lembra disso?
Ele perseguido os pobres até no lago, eu ouço suas
risadas marotas, vejo-te correndo atrás dele, como naquela bela manhã de
domingo de outrora.
Ele veio até mim molhado, latindo e lambendo meu
rosto, ansioso por atenção.
Ouvi ao longe uma buzina insistente, quem será que
veio importunar-me nesse momento?
Voltei com Toddy para casa, e ao longe vi o carro de
sua tia, sim, a tia bruxa, como a chamava.
Toddy sentou-se a meu lado e rosnou ao que parece
nem ele a suporta.
-Bom dia querida. Que bela manhã para uma visita
familiar.
-Bom dia, respondi secamente. O que lhe trás aqui?
-Oras amada, vim lhe ver, desde aquela tragédia que
não nos vemos.
-Prefiro continuar assim, mas diga-me o real motivo
de sua vinda.
-Nossa, ate parece me odiar. Não é só você que
perdeu um filho não, eu perdi um sobrinho muito amado e todos sofremos com
isso, pare de se vitimar, você não sofre mais que nenhum de nós.
-Cala a boca Jurema. Gritei ensandecida.
Vi-a estremecer com a minha reação, nunca na vida
respondi aos mais velhos, sejam quem fosse, mas não darei o luxo de ser educada
com quem menospreza minha dor.
Entramos finalmente, ofereci um café e após um longo
silencio ela recomeçou.
-Desculpe-me a insensibilidade Katie, justamente
sobre isso que vim conversar, já tem meses que você não sai desse sitio, não
fala com ninguém, não vai às consultas com o psicólogo, não quer contato com o
mundo. Isso precisa mudar urgentemente.
Sim querido ela me disse tudo isso, como se fosse
algo que eu pudesse simplesmente desligar ou mudar.
Eu prometi falsamente manter mais contato com os
parentes, esses mesmos que nunca me apoiaram quando seu pai se foi nos deixando
por nossa sorte, os mesmos que naquele dia choraram de remorso, aqueles que
hoje querem reparar a culpa.
Foi assim mais uma semana em minha vida.
Ah, sobre o feriado nacional, senti-me em Berlim,
pois a “Presidenta” ergueu um muro entre ela e o povo para o desfile, pasme
querido, não tem mais orgulho nacional em se desfilar na avenida como era
antigamente todo sete de setembro.
Eu recordei nossas idas à cidade, você fantasiado de
professor, representando a sua escola.
Bem querido, já é noite, tenho alguns remédios para
tomar, logo adormeço, sinto ter que terminar por aqui meu relato.
Volto semana que vem.
Com muito amor, sua mamãe Katie.
By Lilyth Luthor
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